domingo, 17 de junho de 2012

   EU SOU MEIO

                   Eu sou meio Gita, meio Frida, meio que calo.
                   Sou meio Maysa, meio Garbo, meio que falo.
                   Eu sou meio Carmem, meio Marta, meio que basto.
                   Sou meio aranha, meio Natasha, meio que mato.
                   Eu sou meio corpo, meio talento, meio que danço.
                   Sou meio universo, você completa o resto, meio que canto.
                   Eu sou meio Mona, meio Lisa, meio Minelli.
                   Sou meio Brida, meio Rita, se duvidar confere.
                   Eu sou meio Ella, meio Nina, meio Simone.
                   Sou meio Adélia, meio Cecília, meio Pavoni.
                   Eu sou meio Tizuka, meio puta, meio Marrom.
                   Sou meio Angela, meio Joana, meio mãe, o meu dom.
              Quando estamos diante de algo ou de alguém que é absolutamente precioso na nossa vida, a gente sabe, mesmo que sem muita clareza no início, a nitidez às vezes só costuma florir no tempo da primavera do olhar.
               A gente sabe porque sente com uma sinceridade tão profunda que qualquer nuvem de dúvida dura pouquíssimo no céu de azul macio que acontece nesse território da alma.
               A gente sabe porque o sentimento nos pega pela mão e nos leva para um lugar de paz tão singular que, se formos honestos , reconhecemos ter visitado raras vezes nas nossas andanças.
               A gente sabe porque sente ter sido despertado em nós um entusiasmo que nos enche de vontade de fazer expandir a nossa bondade e transformá-la em gestos amorosos pra distribuir por aí.
               A gente sabe porque o coração também sai de casa pra sorrir e quer convidar outras tantas vidas pra sorrir junto.
               A gente sabe porque não consegue mais imaginar que o nosso caminho desaprenda a passar por lá, mesmo que precise aprender a desaprender depois.
               A gente sabe porque se sente feliz. Simplesmente feliz.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Não acredito...



Não acredito em poetas nem em filósofos gregos ou alemães, em psicanalistas ou em biólogos. Não acredito em teorias ou conselhos, em receitas ou testes de revistas. Não acredito nos mais velhos e nem em livros de autoajuda,
em filmes americanos ou na Wikipédia. Não acredito em cartomantes nem em simpatias, em cantadas infalíveis ou versículos da Bíblia. Não acredito em Eros ou Afrodite, nos programas do Sílvio Santos ou na genética. Nem no García Márquez e nem no Sternberg. Não acredito em Santo Antônio ou no Dia dos Namorados.
Eu acredito em canções. Eu acredito no Elvis Costello. Entendo tudo que os discos do Stevie Wonder querem me dizer.
Acredito nos caras do Coldplay. Acredito em Solomon Burke, Cazuza, Nirvana, Queen, Tom Waits, The Smiths, All Green, Frank Sinatra, Neil Young, Verve e Radiohead.
Estou com "Something", dos Beatles. Confio em "Baby, I Love Your Way", Peter Frampton. Me consolo com "Leaving On A Jet Plane", na versão de Peter, Paul & Mary.
Posso ser definida por "Comfortably Numb", Pink Floyd ou pela turma do Bread, com "Lost Without Your Love". Tim Maia, John Lennon, Carly Simon, Marvin Gaye, Jim Morrison, Chico Buarque, Otis Redding. Esse é o pessoal que você realmente não perde por escutar. Não existe nada grafado em papel ou num divã de vinil que faça sua alma compreender do que é feito o amor. Já ouviu falar em paixão, intimidade, sexo, loucura, companheirismo, saudade? Se já, aposto 50 dinheiros, não foi porque leu em algum lugar ou ouviu um professor os descrevendo.
Você cruzou com isso em vida ou então pôs seus headphones e deixou-se levar por uma canção, as três de uma madrugada insone. Um dia você precisou aliviar seu sofrimento e quem estava lá? Sua mãe, um analista, um amigo bêbado? Fodam-se eles. Você ligou o rádio e
alguém como Ian Curtis ou os rapazes do U2
disseram "ei cara, pare de lamentar sua perda, você já deu a volta por cima, pense no quanto você está melhor hoje". Aí você muda o disco.O que você entende por grupo de ajuda?
Weezer, New Order, Velvet Underground? Exato. Quando alguém te disser "eu estarei lá por você" só acredite se vier do Bon Jovi, Jacksons Five ou do Kenny Rogers. Eles são os únicos que você pode contar, no duro.
Do resto, esqueça. Eles vão falar todo tipo de porcaria, cheios de razão, arrogância e menosprezo vão ditar regras, dizer que isso que soca seu peito é passageiro.
E quem são eles? Um bando de diplomas pretensiosos na parede empoeirada, rindo da sua cara pelas costas, seu suposto idiota.
Para dilatar uma alma contraída não há formação. Só duas coisas são capazes de arrepiar os cabelos do seu braço: um toque carregado de ternura ou a bela melodia num solo de guitarra. A única coisa que realmente importa acontece no pátio em intervalos, e não nas salas de aula.
Seja qual for a história, se houver uma canção narrando sua situação, não importa o que disserem ou o que estiver escrito. É amor.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

VIAGENS

Por Ordem dos Viajantes da Cannabis Sativa, o Turismo de Aventura foi substituído pelo Turismo de Ideias Abstratas.

Pacotes de viagem com roteiros criativos, inclusos óculos escuros para os de primeira classe e colírio para a moçada do econômico.

Inconstância

Sempre a oscilação entre bolsas recheadas de inutilidades e o caminhar ao vento, sem lenço ou documento.
Sempre a teimosia em arrumar malas cinco minutos antes da partida.
Sempre esse nomadismo entre o cá e o lá, sem chão que me defina.
As travessias de lugar nenhum para nenhum lugar.
E ainda sempre os caminhos frágeis, sem atalhos, direções, pontos de fuga e pontos de ônibus...destino incerto na linha da palma.
Os meus pés me conduzindo, sempre, pelas veredas entre o oito e o oitenta, sem nunca optarem pelo bom senso.
Nunca as decisões coerentes (ao menos nos momentos precisos).
Nunca realizadas vontades além das infames.
Nunca a alternativa correta assinalada, uma organização eficiente das estantes, a medida certa do sal no arroz, o vestido bonito para o encontro de era-uma-vez.
Constante, apenas essa velha inconstância.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Escreva

Não sei quanto a vocês, mas amor pra mim ter que ter cheiro. Gosto. E FRASES.
Não adianta dizer que um olhar vale mil palavras, que o silêncio diz tudo. Não, não e não. Eu quero sentir, tocar, cheirar, provar, morder e OUVIR. LER. Então, por favor, DIGA. Qualquer coisa que seja, qualquer frase, qualquer palavra perdida, FALE. Ou ESCREVA. Mas por favor, ETERNIZE.
Palavras foram criadas para fotografar o coração. Então por favor, não poupe o mundo da sua essência. Click. Palavras são simples. Precisas. Lindas em sua pureza de ser dita. Ben(m) dita! Não precisa fazer pose. Deixe acontecer. Se a garganta der nó e a sílaba não sair, ESCREVA. Caneta e lápis na mão, SEJA. Mostre-se. Eu não me apaixono por pessoas. Eu me apaixono por frases. Me alimento de palavras. Verdades, incertezas, medos, doçuras e pequenas mentiras. Não importa.
Eu quero provar seus verbos. Seus sujeitos. Seus objetos. Eu quero te ler. Te sublinhar. Te copiar. Te re-ler. Então, por favor, escreva-se. Inscreva-se. Eu quero te pregar num post-it pra nunca mais te esquecer. Quer saber? O que me encanta no mundo são letras, vogais, combinações inexatas entre o que quer dizer e o que se diz. Não precisa dizer bonito. Muito menos escrever bonito. Palavra vira poesia quando dita com a alma. Por isso, solte-se. Rabisque-se. Eu não vou analisar suas palavras. Eu vou apenas senti-las... Sentir você em cada letra escrita, em cada ponto, em cada frase desenhada. Por isso, permita-me. Eu não quero gramática, dicionário, frases de efeito, plágios descarados pra preencher vazio. Eu quero você. Você e suas palavras. Você e sua letra torta. Em qualquer frase, qualquer rima, qualquer asterisco no pé da página. Mas que seja você. Que brote do silêncio da sua alma bonita e se transforme em letras: palavras para eternizar a poesia que é seu coração! P.S: Eu sou mulher de frases. Ainda bem que você tem palavra.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranqüilidade: para que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída. Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza. Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo. Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema. E que quando eu escrever um texto, ao ser publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”. Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais. Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta. Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma companhia.


M.Q